Duas interpretações sobre o poder contido no ato de acreditar me soam muito perniciosas: a primeira é que a de que não passa de uma mera fantasia, um devaneio infantil; a segunda, igualmente ingênua, é de ser a fórmula mágica para a resolução de todo tipo de problema. Eu vou por um terceiro caminho.
Em seu best seller “Sapiens”, Yuval Harari nos propõe que nada externo ao mundo natural – pedra, bicho, rio, planta – tem existência em si mesmo. Sociedades e todas as suas leis, instituições e códigos de conduta não passam de uma ficção coletiva, algo que um dia todos concordaram em acreditar. Mesmo tendo um prédio, colaboradores, CNPJ e uma fonte infindável de guias de recolhimento de tributos, uma empresa não passa de uma abstração. É uma construção social que, antes de fazer uma entrega tangível, tem que ter pertencido ao campo das ideias. E para o negócio ser relevante, é preciso que aquele primeiro idealizador seja hábil o bastante para converter um certo número de pessoas a sua visão de mundo.
Reformar um pensamento é muito mais complexo do que reformar um edifício inteiro, não importa seu tamanho. É preciso tempo, paciência, constância de discurso, consistência de valores, comprovações baseadas em dados e fatos. É preciso respeito à visão do outro. É preciso não querer convencer, mas dar os elementos certos para que o outro entenda que a mudança é vantajosa para ele próprio. E é preciso conquistar parceiros aos poucos, solidificando um grupo que esteja em linha com a mesma visão.
O sistema de Saúde brasileiro caminha para o colapso. Sabemos disso há anos, e sabemos também o que funciona e o que não funciona. Contudo, mover as estruturas do gigante, com tantos interesses e poderes diferentes, é uma missão por muito tempo considerada impossível, mas que jamais abandonei. E hoje, eu e meu time colhemos frutos, que chegaram quase ao mesmo tempo, e que divido agora com você.
Fomos a única empresa brasileira a concorrer em 2024 ao maior prêmio de saúde baseada em valor do mundo, o VBHC Prize. Não saímos com o troféu, mas nos sentimos vencedores na construção de um importante posicionamento internacional não somente para a 2iM, mas para o Brasil. E a solução que concorreu à disputa está presente na Plataforma 2iM.Hospitais©, que chega ao mercado agora em maio para apoiar hospitais na redução de desperdício, melhoria de desfechos clínicos e otimização de recursos. Por fim, depois de quase 20 anos atuando como evangelizador da transformação do modelo de remuneração – o que considero, piamente, ser o primeiro passo para o fim da mentalidade perde-ganha que rege a Saúde e a leva ao caos absoluto -, estarei diretamente envolvido, por meio do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS), junto à Agência Nacional de Saúde (ANS) para elaboração de um guia para orientar o mercado sobre modelos de remuneração baseados em valor. A lista de trabalho é extensa, partindo da publicação da segunda edição revisada e ampliada do Guia para a implementação de Modelos de Remuneração Baseados em Valor, passa pela construção de ferramenta para gestão de indicadores e chega até a capacitação de profissionais.
Não basta acreditar – uma transformação como essa demanda muito, mas muito trabalho. Mas acreditar é, sim, o primeiro passo.
Por César Abicalaffe.
Fundador e CEO da 2iM.